Melhorar a acessibilidade dentro de um edifício é a principal função para a qual se instalam elevadores em edifícios.
Mas nem sempre o conceito de acessibilidade teve o mesmo alcance que se veio a reconhecer ao longo dos anos. Sem querer fazer uma longa divagação, interessa-me focar os conceitos que vieram a ser desenvolvidos no sentido de permitir que toda a gente possa usufruir de uma forma autónoma e confortável de total mobilidade dentro de um edifício.
A primeira grande imposição foi a obrigatoriedade dos edifícios serem dotados de elevadores. Só isso já veio permitir que a qualidade de vida dos utilizadores dos edifícios fosse melhorada de uma forma significativa.
Depois começaram a ser padronizadas certas especificações de maneira a que a utilização de elevadores por parte de pessoas com dificuldades de mobilização pudesse ser mais fácil. Coisas simples como colocar as botoneiras a uma determinada altura, com luz, com relevo ou Braille, etc. vieram tornar-se situações quase universais.
Por fim entrou-se no campo de pormenores muito mais subtis e interessantes. A colocação de mensagens de voz dentro das cabinas, e que tantos utilizadores sem deficiência consideram irritantes e desnecessárias, tornaram as viagens dos invisuais nesses equipamentos muito mais autónomas e simples.
Fico profundamente admirado e chocado pela quantidade de vezes em que sou confrontado com situações em que durante a fase de projecto e definição de produto a instalar as pessoas que têm de decidir os elevadores a montar num determinado edifício levantam objecções, ou desprezam por completo, à escolha de equipamentos que salvaguardam a mobilidade e acessibilidade de toda a gente.
Mais me incomoda quando a favor da decoração e do cómodo, se criam verdadeiras barreiras para as pessoas que possuem dificuldades de mobilização. Em edifícios públicos, zonas que por legislação terão de estar desimpedidas são frequentemente ocupadas por vasos de flores, mesinhas e sofás que tornam o acesso aos elevadores um perfeito inferno para algumas pessoas.
Uma vez (não foi só uma, mas enfim...) fui chamado a um hotel em que o proprietário queria que eu mandasse desligar os “gong” de sinalização de chegada ao piso dos elevadores, porque alegadamente esse ruído prejudicava o sono dos seus hóspedes. Expliquei que esse som era fundamental para indicar aos invisuais a chegada ao piso do elevador, e que apenas dessa forma essa pessoa poderia saber qual dos elevadores (tratava-se de uma bateria duplex) estava a abrir a porta.
Apesar de nunca ter pensado nisso o senhor mantinha-se reticente em manter os “gongs” ligados. No entanto aceitou fazer a experiência comigo de tentar apanhar um elevador de olhos fechados. A experiência foi de tal forma emotiva que quando terminamos já não se falava em desligar nada. Aliás o que mais o surpreendeu foi perceber que os seus elevadores faziam sons diferentes quando a cabina estava a subir ou a descer, permitindo ao invisual se era naquele sentido de marcha que pretendia embarcar.
Chamou quatro ou cinco funcionários do hotel para lhes mostrar aquilo que ele nunca tinha reparado, e passou a ser ele a explicar-lhes os significados dos diferentes toques do “gong”. Nenhum dos empregados tinha reparado em tal coisa, o que por sinal acontece com a grande maioria daqueles que por felicidade não têm de se valer desses pormenores.
Quando estiver a pensar instalar um elevador e necessitar de quem o ajude a definir o produto, porque não nos consulta.
Sem comentários:
Enviar um comentário