Alguns proprietários de elevadores são por vezes confrontados com orçamentos da sua EMA no sentido de se proceder ao encurtamento de cabos.
Mas afinal que cabos são esses, porque se têm de encurtar, e que consequências existem se isso não for feito?
A grande maioria dos elevadores instalados tem o movimento da sua cabina condicionado a um mecanismo que possui um contrapeso de compensação do peso de cabina. Quer isto dizer que sempre que a cabina faz um movimento ascendente esse contrapeso desloca-se para baixo, e quando a cabina faz um movimento descendente ele sobe.
A ligar a cabina e o contrapeso estão, normalmente, cabos de aço em número e espessura que varia com a carga do elevador, tipo de máquina instalada, etc, etc. Quer isto dizer que quando a cabina se encontra a servir o piso mais elevado do edifício, o seu contrapeso encontra-se ao nível do piso mais baixo do poço. Aos cabos que fazem esta ligação chamam-se cabos de suspensão.
Os cabos de aço têm tendência a crescer alguns centímetros nos primeiros meses após a sua instalação. É admissível entre 1 a 1,5 cm por cada 5 metros de cabo, o que equivale a mais ou menos a mesma coisa por piso do edifício. Esse “acamar” dos cabos deve-se a factores físicos que em nada correspondem à perca de qualidade dos mesmos, e por isso não existe qualquer perigo para a segurança do elevador. No entanto, como a legislação de fabrico de elevadores prevê que quando a cabina se encontra no piso mais alto, o contrapeso deve manter uma determinada folga entre a sua posição e os amortecedores que servem de batente de recurso na sua base, o referido crescimento dos cabos irá fazer com que essa medida deixe de ser verificada e como tal o elevador passa a estar em desconformidade com a lei.
A maior parte dos fabricantes, para evitar o encurtamento de cabos nos meses seguintes à montagem, colocam um dispositivo amovível (tipo um calço) que permite fazer a correcção da dita medida de segurança sem ter de se soltar os cabos de suspensão e voltar a fazer a sua amarração.
Mas essa operação só pode ser feita até ao limite do calço existente, e muitas vezes isso é insuficiente para se conseguir manter o padrão de segurança.
Se esta operação não for realizada pode-se chegar ao ponto da cabina não conseguir chegar ao piso mais alto do edifício, dado que o contrapeso assenta nos amortecedores impedindo a cabina de continuar a subir.
Os cabos de aço dos elevadores são, na sua maioria, de boa qualidade e durabilidade, mas devem ser sujeitos a rigorosas medidas de inspecção.
Não porque a cabina possa cair, porque a resistência dos cabos é enorme em relação ao esforço a que estão sujeitos e a queda da cabina está protegida pela acção do pára-quedas, mas por diversas consequências que a sua deterioração pode acarretar. E algumas graves.
A primeira é que ao longo da sua utilização os cabos tendem a perder espessura por esticamento. Crescem e ficam mais finos. Ao princípio a única coisa que se tem de fazer é proceder ao seu encurtamento, mas, mais para a frente, quando começam a ficar demasiado finos penetram em demasia nos gornes da roda de tracção e acabam por a destruir. Aí o problema é muito maior e o orçamento também.
Nos casos limites que um cabo está tão deteriorado que podem acabar por partir ou se soltar, o maior perigo à segurança do utilizador está quando a rotura se dá mais próxima do contrapeso e o cabo, com todo o seu peso de dezenas de quilos, se despenha sobre o tecto da cabina. Na maior parte das vezes o tecto da cabina não aguenta o impacto e os passageiros acabam por sofrer ferimentos que podem ser graves.
Outra das consequências que pode acontecer nestes casos, mas essa com um fim previsivelmente catastrófico, verifica-se quando o cabo que se soltou se “prende” em alguma estrutura fixa dentro do poço do elevador ou em órgãos móveis do mesmo ou doutro elevador (no caso de existirem dois elevadores dentro do mesmo poço). A história regista diversos acidentes muito violentos provocados em cenários deste tipo, sendo os que têm piores consequências para os passageiros aqueles que terminam com o esmagamento parcial ou total da cabina.
Apesar de tentar utilizar uma linguagem pouco técnica quando escrevo estes pequenos artigos, por vezes as pessoas queixam-se de ficarem com algumas dúvidas. Como sempre não tente retirar destes textos soluções para os seus problemas específicos. Cada caso é um caso, e se tiver duvidas consulte a HAPE.
Pode um cabo de suspensão partir/soltar se houver a manutenção conveniente do equipamento?
ResponderEliminar