Na minha experiência profissional ligada aos elevadores algumas vezes tive a sorte de ter tido a liberdade para constituir as equipas que comigo trabalhavam.
Uma das minhas principais missões quando fui convidado a assumir a responsabilidade da minha antiga empresa na Madeira, foi criar na região uma equipa que fosse capaz de encarar qualquer obra de elevadores com autonomia máxima em relação ao continente.
Cerca de dois anos após de ter começado esse trabalho, a equipa da Madeira sofreu a sua primeira grande prova de fogo. À nossa frente estava a construção de um grande hotel em que teríamos de montar mais de uma dúzia de equipamentos.
Todo o trabalho de logística, supervisão, montagem, afinação e certificação dos equipamentos iriam ser feitos directamente por esta jovem equipa, e o que estava em questão era a montagem de 8 elevadores topo de gama e com tecnologia completamente nova para esses técnicos.
Com o calendário muito apertado, mas com profissionalismo que lhe era reconhecido, a equipa fez o seu trabalho ao nível da excelência, mas no último dia ainda muitos trabalhos estavam a ser concluídos. Às cinco da manhã do dia da inauguração ainda dezenas de pessoas trabalhavam a ultimar acabamentos e a resolver problemas de coisas como electricidade, água, ar condicionado, e também de elevadores.
A inauguração estava marcada para o final do dia, e a meio da manhã pude reunir a equipa e dizer-lhes que considerava o trabalho terminado e que podiam finalmente descansar. Ficaria no hotel apenas uma pequena equipa de 3 elementos que teria como missão a garantia de que não haveria surpresas durante a inauguração e primeiras horas de funcionamento.
A meio da tarde regresso ao hotel para acompanhar a inauguração e de imediato sou avisado que os dois principais elevadores do hotel se recusavam a trabalhar, e que tudo já tinha sido tentado sem qualquer resultado aparente. Estava previsto que a visita ao hotel por parte das entidades convidadas se daria exactamente por esses elevadores e, a pouco mais de duas horas desse momento, poucas alternativas se poderiam criar.
O chefe da minha equipa e o chefe da montagem estavam desesperados a tentar tudo o que lhes parecia possível para resolver a avaria, mas o sucesso estava muito longe de ser alcançado.
Sabia que aqueles dois homens eram as pessoas mais capazes na Madeira para colocar em marcha os elevadores, e naquele momento resolvi que iria confiar cegamente nas suas capacidades. Disse-lhes isso e que as 19,00 horas eram o tempo limite para o problema estar resolvido, mas que no caso de tal não ser possível eu pessoalmente estaria no hall principal do hotel e transmitiria isso ao cliente a tempo de evitar que o botão de chamada do elevador fosse pressionado.
Este modelo de equipamento indica um X no “display” de patamar quando o elevador está fora de serviço. Era esse X que cismava em não desaparecer da minha vista.
Plantado ao lado dos elevadores ia vendo chegar os convidados para a festa e continuava a ver o malvado X bem à vista de toda a gente.
Por fim chega o Dr. Alberto João Jardim, presidente do governo regional, que se dirige ao nosso cliente e iniciam em conjunto os cumprimentos a outras entidades presentes e a visita ao hotel. Nesse momento, quando eu já estava prestes a atirar a toalha ao chão e avisar o cliente que não ia puder usar aqueles elevadores naquele dia, chega-me a informação que a avaria poderia estar prestes a ficar solucionada. Resolvi arriscar mais um pouco.
De repente vejo a comitiva a aproximar-se na minha direcção e percebi que era o momento em que os elevadores teriam de funcionar. Completamente destroçado avanço na direcção do nosso cliente para lhe transmitir a má notícia. Ele olha para mim e estende-me a mão para me cumprimentar, o Dr. Alberto João Jardim faz mecanicamente o mesmo gesto ao mesmo tempo que eu espreito pela última vez o “display” dos elevadores. O X tinha desaparecido. Eu nem queria acreditar. Eles tinham conseguido!
Dei os parabéns e desejei felicidades ao cliente, saí da frente e desejei-lhes uma boa viagem nos elevadores. E a viagem foi perfeita.
Daí para a frente chefiei muitas obras de grande dimensão. Algumas tiveram situações caricatas que ficam na memória de quem as viveu, outras (a grande maioria) decorreram com tanto profissionalismo que quase não deixam memórias. Planear as obras com muito cuidado é o que define os grandes profissionais. Felizmente sempre consegui chefiar equipas assim.
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