Foi a invenção dos elevadores, ou mais correctamente a garantia de que os mesmos eram falíveis e seguros, que permitiu a maior revolução arquitectónica do último século. A construção em altura e o aparecimento dos arranha-céus.
Os elevadores têm de garantir a mobilidade das pessoas dentro dos edifícios, mas para serem funcionais devem ser calculados para o tipo de utilização que os prédios vão ter.
É completamente diferente calcular os elevadores para um hotel, um prédio de habitação, um centro de congressos ou uma estação de metro.
No entanto o objectivo é sempre o mesmo. Que o tempo de espera no patamar não ultrapasse um determinado tempo.
Se alguém tem de esperar por um elevador mais do que um determinado tempo, isso vai provocar desconforto e irritação, sendo causa provável de menor desempenho profissional, menor apetência para concluir um negócio, ou aumentar a susceptibilidade para reclamar do serviço que se pratica no edifício.
Os edifícios com mobilidade vertical bem conseguida são mas acolhedores, confortáveis, funcionais e propensos à realização de bons negócios e de melhor harmonia entre utentes. Hoje em dia esses edifícios são valorizados e procurados por empresas e pessoas que querem um bom ambiente envolvente.
Mediante o tipo de edifício o especialista em elevadores vai tentar perceber como se vão comportar os seus utilizadores. Imaginemos casos muito simples que ilustrem as opções de decisão.
Dois hotéis. Um hotel que apenas trabalha com grupos (exemplo de alguns hotéis da Madeira que funcionam com “charters” e que por isso os hóspedes chegam num autocarro do aeroporto todos ao mesmo tempo), e outro que recebe hóspedes em auto-férias (e que por isso vão chegando espaçados ao longo do dia). Se estes dois hotéis tiverem a mesma configuração arquitectónica (número de pisos, etc.), mesmo assim é possível que os elevadores a instalar tenham de ser diferentes. No primeiro caso imaginemos que se teriam de instalar dois elevadores de capacidade para 13 passageiros, e no segundo caso a melhor solução pode passar por uma bateria triplex de 8 passageiros cada.
Um centro de congressos que reúne 2.000 pessoas num determinado piso, e que à hora das refeições quer transportar essa avalanche de gente para o piso superior onde se encontra o restaurante, tem de basear a sua mobilidade vertical em escadas rolantes e não em elevadores. Seriam necessários mais de 50 elevadores para garantir o mínimo de escoamento a uma situação deste tipo.
Num grande edifício de escritórios o cálculo dos elevadores é feito tendo por base o número de pisos, o número de postos de trabalho e o número de visitantes espectável. Mesmo assim, e essa é uma prática corrente em cidades em que há predominância de arranha-céus, por vezes tem de haver acordo entre os ocupantes do edifício para diferenciarem os horários de início e fim de trabalho para que se evitem aglomerados de pessoas em horas muito específicas do dia.
Nos prédios de habitação (e em Portugal isso acontece a maior parte das vezes, porque tradicionalmente os prédios são baixos – até 8 pisos), os elevadores estão sobredimensionados para as necessidades do edifício, e tirando situações muito pontuais, não há grandes problemas de mobilidade. Salvo quando há elevadores avariados. Mas é curioso que mesmo em prédios em que o cálculo dos elevadores está bem feito por vezes registam-se situações sistemáticas do elevador demorar demasiado tempo a estar disponível. Grande parte destas situações devem-se a três factores sobejamente conhecidos: 1- Limpeza dos elevadores a ser feita em horas impróprias (problema de falta de regulação das actividades do condomínio), 2- Utilização dos elevadores para “mudanças” em horas impróprias, e 3- Parâmetros de programação dos elevadores inapropriados para o edifício em questão (tempo de abertura e fecho de portas, etc.).
Voltado à questão do conforto que é transmitido a um edifício com os elevadores bem calculados, vou falar de um exemplo conhecido de um hotel do Sul de Espanha. Esse hotel tem a forma de um L e é constituído por dois corpos de quartos. Tal e qual como na letra L uma das alas é mais curta do que a outra. Na ala ocidental, que é a mais curta, há menos 6 quartos por piso (3 para o mar e 3 para terra) sendo o corredor mais curto cerca de 10 metros. Nesta ala os elevadores (que são dois) estão no centro do corredor, e por isso nenhuma porta de quarto dista mais de 20 metros do acesso aos elevadores. Na ala oriental, a mais longa, os elevadores estão colocados no topo do corredor, e por isso há quartos a mais de 40 metros do acesso aos elevadores.
Como as baterias de elevadores são perfeitamente iguais, o facto do número de quartos variar em 42 (são 7 pisos) faz aumentar o tempo de espera estimável em patamar de 32 para 58 segundos. Alia-se a isto o facto de as pessoas terem de percorrer uma distância muito grande entre o quarto e os elevadores.
A administração do hotel admirava-se que apesar de o serviço ser igual em todo o complexo, os hóspedes da ala oriental reclamavam 8 vezes mais do que os hóspedes da ala ocidental, até que descobriram a relação entre os elevadores e o desconforto dos hóspedes. As reclamações dos hóspedes causavam prejuízos estimados em dezenas de milhares de euros por ano.
Há cerca de 3 anos resolveram colocar mais um elevador a meio da ala oriental, eliminando para isso um quarto por piso. As reclamações baixaram para o nível dos da ala ocidental, e os prejuízos com reclamações baixaram 80%. O investimento pagou-se no primeiro ano.
Muito mais há a dizer sobre o cálculo de elevadores para um edifício. Decidir o número de elevadores a colocar, a sua localização, a sua capacidade, velocidade, tipo de comando, etc. deve ser um trabalho para o qual um arquitecto ou projectista deve ouvir a opinião de um especialista em elevadores. Uma boa mobilidade vertical faz toda a diferença, e para isto existe a HAPE.
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