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segunda-feira, 2 de maio de 2011

A segurança dos técnicos de manutenção.

Durante muitos anos, enquanto responsável operacional por muitos técnicos de manutenção de elevadores, senti uma grande apreensão em relação às condições de segurança e higiene que esses técnicos por vezes tinham de trabalhar.

Mesmo em elevadores que tinham a sua aprovação de segurança em dia e que tinham “passado” nas Inspecções Periódicas a que tinham sido sujeitos, havia (e há) situações que bradam aos céus em termos de precariedade das condições mínimas em que se pode obrigar alguém a trabalhar.
As situações são tão variadas que apenas vou referir algumas coisas que presenciei, denunciei e nem sempre fui capaz de ver resolvido.
Os casos mais comuns são os abusos que os proprietários fazem nas casas das máquinas. Conheci casas de máquinas transformadas em pombal, armazém de tinta, secagem de roupa, fumeiro de presuntos, criação de coelhos, dormitório, e outras utilizações que o decoro me obriga a não revelar.
Para além destas situações menos comuns, foram inúmeras as casas de máquinas que conheci com infiltrações de água que colocavam em risco qualquer trabalho de manutenção que se pretendesse fazer num equipamento eléctrico.
 Conheci ainda casas de máquinas em que o acesso era (em algumas ainda será) mais propicio a trapezistas do Circo Cardinali do que para técnicos de manutenção de ascensores. A mais assustadora era aquela em que na última fase do acesso se tinha de passar, a mais de 10 metros do solo, por uma prancha de madeira que, sem apoios laterais, ligava por cima de um pátio duas fachadas do mesmo edifício. Nunca consegui passar para o outro lado.
Outra famosa era aquela que obrigava o técnico a rastejar por um buraco que teria uns 40 por 60 centímetros para sair numa caverna onde se encontrava a máquina e o quadro de comando do equipamento.
Também são situações complicadas as que se verificam nos elevadores públicos cujas cabinas são iluminadas com lâmpadas fluorescentes escondidas em sancas. Esses espaços são utilizados pelos passageiros para despejar toda a espécie de lixo, e muitas vezes aparecem no meio dessas porcarias seringas e agulhas originárias de utilização por toxicodependentes. Apesar das inúmeras recomendações que os técnicos têm para usar sempre luvas quando fazem essa limpeza (e também nos fundos dos poços), são muitos os casos em que sofrem picadelas muito pouco saudáveis.
Mas as condições mais degradantes são quando os poços dos elevadores não são dotados de iluminação eléctrica. Obrigar os técnicos a trabalhar sem luz, onde estão em perigo permanente de electrocussão, esmagamento ou queda em altura, é uma irresponsabilidade sem nome. No entanto ainda há muito proprietário de elevador que se nega a fazer essas adaptações elementares alegando que não são obrigatórias por lei (depende da idade do elevador), como se houvesse necessidade de existir uma lei para que tal condição fosse corrigida.
Uma vez tive um azedume sério com um jovem director de um centro comercial que se negava a pagar a mudança das lâmpadas do poço de um elevador panorâmico alegando que sendo a caixa em vidro as luzes eram desnecessárias. Foi difícil convencer o diligente burocrata que as avarias do seu elevador tanto podiam acontecer de dia como de noite e que a iluminação era fundamental para o trabalho dos técnicos.  
Nos meus anos na Madeira conheci poços de elevador que eram verdadeiras urbanizações de animais rastejantes. Uma vez fui chamado para ver a possibilidade de modernizar um elevador num dos grandes hotéis da ilha. Quando fiz a primeira (e única) viagem no tecto da cabina, à medida que íamos descendo eu só conseguia ver as paredes do poço cobertas de baratas. Quando chegamos à cave saímos para o patamar e enviamos a cabina para cima. Ficou à vista o fundo do poço e eu tive a nítida sensação que estava a ver uma cena de um filme do Indiana Jones. Só que ali não era filme. As baratas eram milhares e milhares e cobriam por completo todo o chão do poço. A temperatura elevada, a humidade, o acesso ao espaço da cozinha, tinham tornado aquele espaço um paraíso para a bicharada, e um lugar nojento para quem lá tinha de trabalhar. Para os técnicos aquelas eram as condições em que tinham de trabalhar, e estavam muito para além do que era aceitável.
Na minha opinião compete ao proprietário do elevador manter as condições de salubridade e segurança mínimas para que o trabalho do técnico seja feito com dignidade. O que a lei determina é pouco relevante quando está em causa o respeito que nos merecem as pessoas que nos prestam um serviço.

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